segunda-feira, 15 de junho de 2009


MEL ESCARLATE



Quando a abelha picou o menino

Nada ele fez

Não chorou

Não gritou

Não fez sequer uma reação que exacerbasse a sua dor

A engoliu feito faca amolada, rasgando as entranhas

quieto.


Perante o ser inanimado

Que observava astuto seu movimento alado

Estático, tal folha seca no ar outono

A abelha não exitou em cravar sua espada.


MOVIMENTOS PÉRFURO-CORTANTES

pele seda

ESTILETE / papel / CATAPULTA / cervical / MOTOSSERRA / floema

LUZ / copo de cachaça na mesa do bar no domingo.


E foram tantos golpes de esgrima

Sem escudo, sem armadura

Que a rosa vermelha brotou entre o jardim

Que dos olhos céu aberto fez-se chuva

Que da morfina sentiu-se o infarto

E o bípede, implodiu ápide ao solo.


Ao observar o triunfo sobre Golias

do pequeno Davi que flutuava Euller no vento

O exército de espadas negras se aproximou

E o ataque foi atroz

Cada instante mais soldados,

mais espadas, mais kamikazes, mais exércitos e muito

Muito mais rosas vermelhas a nascer.


De olhos abertos

Aquele gigante de gesso mumificava seu desespero

Um simples gemido não era ouvido do pequeno estátua.


Ao notar a criança observando,

ainda com o sorriso no rosto,

a aproximação silenciosa da morte

A primeira das abelhas sussurrou-lhe ao ouvido:

- Por que não reage menino?

- O que se passa contigo?


Aquele que ainda brincava na rua e

trepava na jaqueira do quintal

Sorriu parnasiano, e declamou trovador

seu pequenino amor infinito:


“Quando regestes a mim o teu som

Cintilando-me as asas, sublime

Foi como som de orquestra entoada

O dissílabo nome de minha Ísis amada“.


Sem nada entender, o inseto decolou

Desenhando no ar amarelo

As últimas palavras da vida daquele menino.


Zzzz Zzzz Zzzz


Zziii Zziii Ziii


Isis Isis Isis


Isis...


THIAGO ROCHA




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Um comentário:

ANDREAGOMES disse...
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