MEL ESCARLATE
Quando a abelha picou o menino
Nada ele fez
Não chorou
Não gritou
Não fez sequer uma reação que exacerbasse a sua dor
A engoliu feito faca amolada, rasgando as entranhas
quieto.
Perante o ser inanimado
Que observava astuto seu movimento alado
Estático, tal folha seca no ar outono
A abelha não exitou em cravar sua espada.
MOVIMENTOS PÉRFURO-CORTANTES
pele seda
ESTILETE / papel / CATAPULTA / cervical / MOTOSSERRA / floema
LUZ / copo de cachaça na mesa do bar no domingo.
E foram tantos golpes de esgrima
Sem escudo, sem armadura
Que a rosa vermelha brotou entre o jardim
Que dos olhos céu aberto fez-se chuva
Que da morfina sentiu-se o infarto
E o bípede, implodiu ápide ao solo.
Ao observar o triunfo sobre Golias
do pequeno Davi que flutuava Euller no vento
O exército de espadas negras se aproximou
E o ataque foi atroz
Cada instante mais soldados,
mais espadas, mais kamikazes, mais exércitos e muito
Muito mais rosas vermelhas a nascer.
De olhos abertos
Aquele gigante de gesso mumificava seu desespero
Um simples gemido não era ouvido do pequeno estátua.
Ao notar a criança observando,
ainda com o sorriso no rosto,
a aproximação silenciosa da morte
A primeira das abelhas sussurrou-lhe ao ouvido:
- Por que não reage menino?
- O que se passa contigo?
Aquele que ainda brincava na rua e
trepava na jaqueira do quintal
Sorriu parnasiano, e declamou trovador
seu pequenino amor infinito:
“Quando regestes a mim o teu som
Cintilando-me as asas, sublime
Foi como som de orquestra entoada
O dissílabo nome de minha Ísis amada“.
Sem nada entender, o inseto decolou
Desenhando no ar amarelo
As últimas palavras da vida daquele menino.
Zzzz Zzzz Zzzz
Zziii Zziii Ziii
Isis Isis
THIAGO ROCHA
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