Assisti há alguns dias um comercial do Greenpeace que hipotetizava como seria a vida na terra no ano de 2100 caso os seres humanos aprendessem a conviver em harmonia com o meio ambiente e fizessem uso apenas de combustíveis não degradáveis aos ecossistemas. Mostrava que as geleiras dos pólos não haviam derretido, mais nenhuma espécie animal havia se extinguido, as florestas (principalmente a Amazônica) ainda estavam de pé e o aquecimento global não mais assustava a raça humana. A parte as mudanças climáticas, das espécies ou das florestas, pela primeira vez pensei que era possível viver até 2100.
Caso viva até o século XXII, terei 113 anos na sua virada – algo possível. Estranho como nunca pensara viver tanto tempo, nunca pensara um dia poder vir a ser tataravô, ou mesmo, pronunciara a expressão “século vinte e dois”. Estamos muito mais acostumados a crer que tudo pode se acabar amanhã a sonhar em viver até 2100. Porque nunca me dera o luxo de planejar uma vida 90 anos além dos vinte e poucos já vividos?
A raça humana está sendo codificada a não ter esperança num próximo século, muito menos que naquele século, possam existir lugares pacíficos de se viver. A todo instante o que é martelado em nossas retinas e ouvidos já tão cansados, é que as mudanças climáticas tornarão o clima insuportável em poucos anos; o nível dos mares se elevará a ponto de arrancar do mapa muitas cidades litorâneas; o verde inexistirá frente ao cinza; o terrorismo matará boa parte dos homens e mulheres do mundo; vírus e bactérias mortais extinguirão os seres humanos pouco a pouco e que, 2050 já é lucro para quem vira a casa dos 30 hoje em dia.
Acredito que seja muito provável que assistiremos o noticiário do ano de 2050, dando a notícia da existência de pessoas com 140, 150 anos de idade. Lembremos que já houve, nos dias de hoje, quem tenha vivido até os 130. Isso com a medicina muito mais falha que a de hoje, o mundo habitado por menos da metade da população há um século e guerras que mataram milhões. No ano de
Quando se pensa em tudo isso e leva-se para o lado pessoal, os números podem apavorar ou tranqüilizar os mais afoitos. Pensemos: se eu ainda tiver mais 90 anos de vida e viver em um mundo com mais dez bilhões de pessoas, o que é, hoje, algo ou alguém em minha vida? Às vezes achamos que o mundo acabou porque perdemos alguém importante, porque fomos demitidos de um emprego ou simplesmente achamos que o fim está próximo porque cruzamos a qüinquagésima primavera.
Há muito mais para se viver, muito mais para se conhecer, muitos mais amores para se amar, tombos para cair, forças para reerguer-se, dia-a-dia. Há necessidade de desistir de um sonho, sempre quando se constata que, aquele sonho, não nos completará plenamente. É preciso força para dizer adeus e para partir! Caminhos que levem para longe quando a mesmice de onde estamos desfizer mais e mais sorrisos.
E sempre que pensarmos em desistir da vida ou que a vida nos obrigue a desistir dela, lembremos: não é possível que até 2100, com 10 bilhões de pessoas no mundo, “um dia” ou “alguém”, não esteja ao meu lado me dando a mão e me reerguendo dos meus tombos e refazendo comigo sonhos que jurava serem a solução de uma vida, mas que, posteriormente, viu-se não passarem de um sonho.
É corriqueiro da mente humana, achar que tudo que havia no passado era mais saudável, bonito e puro. Pode até ser que assim fosse, mas, talvez o tempo presente (que após vivido será passado) SEJA um divisor de águas entre o que foi bom, alcançou o ápice do desgaste e retomou o caminho da sustentabilidade e harmonia entre os povos. Sonho de um pobre autor, querido leitor? O tempo dirá! Sonho sendo, desisto dele e faço novos planos de conseguir sobreviver até 2030 num mundo que caminha a passos largos para o desmundo.
THIAGO ROCHA
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